Marcelo Jeneci em seu caminho entre os grandes

Marcelo Jeneci me convenceu pelo talento, verdadeiramente, ano passado, neste show no Conexão Vivo em BH. Até então eu nutria certa simpatia pelo seu disco, apesar de achar que faltava algo. Ao vivo esse “algo” era completado com enorme competência. Depois tive a oportunidade de vê-lo outras duas vezes: na Praça do Santa Tereza, também em BH e no Festival Escambo, em Sabará, sempre em ambientes abertos. Lembro ainda que perdi a chance de vê-lo em Brasília em 2010 ou 2009, num desses projetos que o CCBB faz de “apostas” da nova música brasileira. Na época, Jeneci era aposta.

O convite para homenagear Luiz Gonzaga gerou o show que acabo de ver, na Caixa Cultural, em Brasília. Teatro lotado apesar da chuva torrencial lá fora e como o próprio Jeneci fez questão de contar, nada mais apropriado já que Gonzaga é uma de suas maiores influências. Ele ganhou sua primeira sanfona das mãos de Dominguinhos, outro discípulo de Gongaza e o pai de Jeneci trabalha eletrificando sanfonas há quase 30 anos.

A abertura, calma e progressiva, veio com “A Vida Do Viajante”. Depois, na verdade o que se seguiu foi um show típico de Jeneci, focado 90% em suas músicas. E a diferença significativa que eu consigo notar dos shows que vi ano passado para este são duas: o entrosamento crescente da banda e o próprio domínio de palco ampliado de Jeneci e Laura Lavieri.

httpv://www.youtube.com/watch?v=qY6dtQ_FwMM

Mais que o domínio, a facilidade e o maior espaço para “experimentar”, estender canções, a leveza com que se apresenta e se reveza entre os diversos instrumentos que toca. A própria experiência de palco, em suma, que Jeneci adquiriu com a carreira própria nos últimos 2 anos, impactando diretamente na performance, na qualidade e na capacidade de fazer o que bem entender em cima dele.

De Gonzaga, veio “A Morte do Vaqueiro” em linda versão, com um espetáculo de Laura. Já no fim do show, com a banda descansando, Jeneci senta no palco e resolve conversar um pouco com a plateia, contando resumidamente sua experiência de vida, seu primeiro contato com a sanfona e as peculiaridades que o levaram até ali para em seguida emendar uma versão conjunta e breve de “Assum Preto” a cappella, acompanhado do público. Breve e um pouco atrapalhado, mas de pungência marcante.

Assumindo Luiz Gonzaga e Roberto Carlos como maiores influências da sua música, Jeneci afirmou que a oportunidade de shows como esse servem para ele mesmo se dar conta disso e que provavelmente a sanfona terá ainda mais espaço em seu próximo álbum. De Roberto, a banda mandou excelente versão de “O Astronauta”, uma das melhores composições do Rei, que já vem sendo executada ao vivo há algum tempo.

Esses 4 shows que eu vi e sua trajetória até aqui, seja solo ou tocando ou compondo para outros artistas, confirmam uma forte impressão: que Jeneci tem tudo para se tornar “o próximo grande” da música popular brasileira atual. Pra mim, já é. E apesar de todos os predicados, ainda temos o teste dos próximos discos, do mercado em si, da boa dose de um sem fim de coisas que podem fazer um artista ser “grande” ou não para a nossa realidade atual. O que importa no momento é a qualidade da sua música, as excelentes apresentações ao vivo e o amadurecimento – no melhor sentido possível que essa palavra possa ter para o meio musical – nítido que demonstra.

Como nenhum outro com tão pouco tempo de estrada como artista principal, Jeneci tem tudo para se firmar como uma referência do que de melhor o popular, o “independente”, as tradições da MPB e as “influências estrangeiras” podem oferecer. Já trato como um privilégio a oportunidade de literalmente acompanhar o surgimento de um artista desse calibre. Fique atento.