Para usar um termo típico do meio musical “The Night” foi o “canto de cisne” do Morphine. Trágico e sombrio pelas próprias circunstâncias. Lançado um ano após a morte do baixista/vocalista/fundador Mark Sandman de ataque cardíaco durante um show em Roma.
Felizmente, “The Night” estava quase pronto antes disso (com Sandman compondo todas as canções, diga-se). E o resultado é um álbum tanto digno dos clássicos da década de 90 quanto fresco o suficiente para adicionar outros tons na paleta cinza do trio. Principalmente a presença de mais instrumentos de corda (cello, violino) e os backings femininos dentro de uma produção crua e rústica na medida sem jamais soar tosca.
Cultuado no meio independente desde o nascimento, o Morphine nunca alcançou “sucesso” considerável, apesar das críticas positivas no mainstream. Nada de mais: sua música sempre foi não comercial, não óbvia, quase não pop. Sem guitarras, substituídas pelo sax, (+ baixo, bateria e outras participações) o Morphine sempre soa como algo ideal para um clube boêmio numa madrugada fria, becos escuros/luz baixa, clima intimista e lento. Deliciosamente lento.
Longe da pressa, da velocidade, do desespero em entregar algo “forte”, agressivo e pretensiosamente “moderno”. Desde a abertura com a faixa título, até “Top Floor, Bottom Buzzer”, “A Good Woman Is Hard To Find”, “I’m Yours, You’re Mine” (uma das melhores músicas da década) e “Take Me With You”, o álbum está recheado de pequenas obras primas, canções que flertam com a melancolia sem jamais se entregar a ela.
Difícil pensar numa despedida melhor.
And all across that line. Stretched between your bed and mine.
All alone just for tonight. I’m yours and you’re mine.