You fell from the sky
Crash landed in a field
Near the river Adur
Flowers spring from the ground
Lambs burst from the wombs of their mothers
In a hole beneath the bridge
You convalesced, you fashioned masks of clay and twigs
You cried beneath the dripping trees
Ghost song lodged in the throat of a mermaid
With my voice
I am calling you
O que esperar do novo álbum do Nick Cave após perder o filho adolescente de 15 anos que morreu caindo de um penhasco chapado de LSD? De um cara sempre obcecado com temas como redenção, existencialismo, anjos & demônios, paixão & desgraçamentos, coisa e tal?
“Skeleton Tree” é aquela epifania costumeira com verniz apocalíptico romântico psicológico desesperançoso. Fluxos de consciência flertando com duas rodas na beira do abismo. Um lapso bem calculado que acaba fugindo do controle. O trabalho angustia o homem. A vida é um espinho na garganta. Cave sabe disso como poucos.
“Jesus Alone” não poderia ser mais simbólica: Cave inicia remoendo a experiência de encontrar o filho Arthur morto em meio a dezenas de referências bíblicas, tão presentes na sua obra.
Para se recuperar de um trauma dessa magnitude, Cave escolheu afundar-se na criação. Brilhantemente, diga-se. O documentário “One More Time With Feeling” é o seu testamento e o seu press release. Nada melhor que evitar discutir milhares de vezes os mesmos pontos com uma imprensa muita vez inconveniente, amadora e sem imaginação.
Talvez a faixa que melhor dialoga com “Jesus Alone” é “Distant Sky”, que tem a participação essencial da soprano Else Torp. Penúltima, prepara o terreno para a conclusão da faixa título e delibera essencialmente sobre a dor, o amor e o arrebatamento.
Let us go now, my one true love
Call the gasman, cut the power out
We can set out, we can set out for the distant skies
Watch the sun, watch it rising in your eyes
They told us our dreams would outlive us
They told us our gods would outlive us
But they lied
Soon the children will be rising, will be rising
This is not for our eyes
Com exceção da dispensável “Rings of Saturn”, que não está no mesmo nível, todas as outras faixas levam ao limite a exploração de texturas, de climas e ambiências, de linhas vocais que flertam continuamente com o sacro, em ritmo do soturno contador de histórias que Cave construiu ao longo do tempo: “Girl In Amber”, “Magneto” (espetacular), “Anthrocene” e a ótima “I Need You”, uma espécie de balada-niilista (“porque nada realmente importa”) formam a essência do disco, embebido da experiência inominável que Cave teve que passar, porém não apenas. Metade do disco já estava pronto quando seu filho morreu e as letras evocam sempre situações, figuras e referências diversas, saturadas de uma melancolia ora estoica ora cínica ora violenta.
“Skeleton Tree” usa com mais ênfase ainda recursos eletrônicos e canções direcionadas pelo piano, sendo primo direto do anterior “Push The Sky Away”, compartilhando da mesma fonte e mundo estético, porém aqui retorcido e levado ao extremo do modo Cave de fazer as coisas e do som característico do Bad Seeds, afundado em uma ambiência quase “drone” às vezes, marcas de uma discografia impressionante de um dos maiores gênios do nosso tempo.
Sua voz é próxima, sussurrada, íntima. Mais que qualquer tipo de testamento, Cave parece querer nos lembrar que não existem respostas prontas, não existem prateleiras às quais você possa facilmente recorrer, não há bula de um medicamento conhecido e não existe uma maneira tranquila de ouvir “Skeleton Tree”. É impossível passar incólume pelo convite de Cave, que repete com a convicção cambaleante de quem não tem outra alternativa no fim: “está tudo bem agora, está tudo bem agora, está tudo bem”.
Glowing white like fire
Nothing is for free
I called out, I called out
Right across the sea
But the echo comes back in, dear
And nothing is for free
And it’s alright now