O YES é a definição do que se convencionou chamar de “progressivo sinfônico”. Depois de 45 anos de estrada, combalidos pelo tempo, a banda se mantém em pé e bem. O progressivo, em si, ainda sobrevive dos seus dinossauros e, em outra ponta, das bandas atuais geralmente calcadas no metal e/ou extremamente experimentais, misturando vários gêneros do prog, nenhuma, no entanto, a alcançar um reconhecimento sequer mediano de popularidade no mundo.
Se lá nos anos 60 e principalmente 70 o progressivo dominou boa parte dos holofotes da música, o YES foi uma das peças centrais nisso. Seus 8 discos lançados na década de 70 são um testemunho do talento e da produção incansável de uma das formações mais clássicas do rock: Jon Anderson, Chris Squire, Rick Wakeman, Bill Bruford (e logo depois Alan White) e Steve Howe. Nesta turnê no Brasil Anderson foi substituído por Jon Davison, que busca reproduzir fielmente o estilo e os vocais de Anderson, tendo muita competência pra isso.
E que privilégio é ver Squire, White e Howe ali no palco. Geoff Dowes, que substitui Wakeman, um dos responsáveis por tornar o YES o que é, um dos tecladistas mais megalomaníacos e talentosos da história do rock, não compromete em nenhum momento. Depois de inúmeras idas e vindas, Wakeman deixou o YES pela última vez em 2008.
Mas aí você tem uma reunião de gênios no que fazem interpretando 3 dos maiores discos do prog: “Close To The Edge”, símbolo máximo, obra-prima absoluta, inclusive considerado pela comunidade Prog Archives (talvez a maior referência em prog na web) o maior disco de progressivo de todos os tempos e outras duas belezuras “Going For The One” e “The YES Album”.
E ali, quando o show começa, ainda febril e doente, lembro porquê, apesar da minha “pouca idade” (risos) sempre fui um fanático por progressivo desde que me entendo por gente. Nunca me decepcionei ao ver esses dinossauros no palco. Nunca foi deprimente ou forçado. Ao contrário. O progressivo, essa mistura pretensiosa de “rock”, que de “rock” tem muito pouco, “acentos clássicos e sinfônicos”, “jazz” e muito “experimentalismo” – o excesso de aspas denota o quanto o estilo guarda uma exclusividade característica, uma poliritmia de sentidos e orientações – é um mundo em si. E o YES é um dos seus mestres.
httpv://www.youtube.com/watch?v=GNkWac-Nm0A
“Close To The Edge”, em seus 38 minutos, é a essência da banda. A faixa-título é um testamento. E o público delira, naturalmente. Um bom público, diga-se, para os padrões de Brasília. Arriscaria pelo menos umas 5 mil pessoas no Nilson Nelson. Talvez mais. O som, ainda que longe da perfeição – e nunca será, num ginásio – estava bem aceitável, melhor que muitos outros shows que já vi ali.
httpv://www.youtube.com/watch?v=tE9vU8FGyoo
“Going For The One”, que já começa num quase “hard rock”, puxa as coisas para outro clima, outro tipo de construção, mostrando especialmente a capacidade de Howe e da “cozinha completa” em se aventurar no que bem entendem. Depois do intervalo, “The Yes Album” volta no tempo, de 77 para 71 e dá outra visão da crueza burilada dos anos iniciais da banda. Este disco é o primeiro que revela realmente as intenções do grupo, toda sua pretensão (justificada) e sua capacidade. Como um colega afirmou no Prog Archives:
Opening on the almost 10-mins Yours is No Disgrace, a track that will become the first Yes epic that is loved by fans and still played nowadays, as is most of this album. Right from the first guitar notes, Howe shows the why of his hiring, and the show goes on with the amazing acoustic guitar solo piece of The Clap, a Django Reinhardt live-extravaganza. Another uber-Yes classic the 9-mins+ three-part Starship Trooper fills the rest of this first flawless side of vinyl, where Tony Kaye’s organ flies forward because of Howe’s more versatile nature.
O bis vem com a inevitável “Roundabout”, o “hit” da banda do “Fragile”, outro álbum clássico dos anos 70. Delírio total de um público privilegiado e a certeza de que ver bandas assim ao vivo é uma experiência sempre renovadora, sempre “transcendente”.