Por Maurício Angelo
Quando foi lançado, aproximadamente 1 ano atrás, o trio carregava a experiência de um primeiro disco muito bem sucedido (pelo menos criticamente) de Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França. Com a brincadeira ficando mais pesada, a banda foi rebatizada como “MetaL MetaL” e levou ao extremo o que os próprios definiram como “afro noise”: uma fusão de estruturas jazzísticas, música africana, experimental, hardcore e MPB.
Ao vivo, a mistura é certeira e funciona perfeitamente bem. Mais do que entrosados, o trio emenda faixas que não encontram par na música brasileira atual: “Oya”, “Man Feriman”, “Tristeza Não”, “Exu” e “Rainha das Cabeças”. Escolado em metal, poucas vezes vi um show congregar tão bem o peso com inteligência, harmonia e experimentação sem cair no exagero fácil e no virtuosismo de conservatório. A guitarra de Kiko e o sax de Thiago conversam entre si, seja em estruturas convencionais seja nos fraseados de jazz, enquanto Juçara, permanentemente, é o que podemos chamar de “força da natureza”, para usar um clichê.
httpv://www.youtube.com/watch?v=7CKVHN_d8Lo
No Calaf, casa “tradicional” de Brasília, que abriu um novo espaço, melhor que o antigo, e tem recebido com frequência bandas e artistas independentes, o público se revezava entre habitués, curiosos e poucos fãs hardcore, recebeu bem o que saía da caixa de som, entre danças e a contemplação surpresa. Rodrigo Campos, mais do que um convidado de luxo, já que faz parte de um círculo de músicos que colaboram permanentemente entre si e também tocam o projeto Passo Torto, rodas de samba e o diabo a quatro, apresentou algumas faixas do excelente “Bahia Fantástica”, que, junto com MetaL MetaL, foram os dois melhores discos de 2012.
Rodrigo é compositor de talento raro, elencando referências óbvias como toda a linhagem da MPB dos anos 60 até os alegados Funkadelic e Curtis Mayfield. “Cinco Doces”, “Jardim Japão”, “Princesa do Mar”, “General Geral” e “Morte na Bahia” soam frescas, de um compositor de talento único, extremamente bem sucedido nas melodias que cria.
httpv://www.youtube.com/watch?v=yGYF4rri_gw
Salvo armadilhas do mercado e desgostos variados que a vida de músico independente costuma reservar, tudo indica que continuaremos a ter o Metá Metá e Rodrigo Campos na linha de frente da eterna “nova música brasileira”, já madura o suficiente para se descolar desse rótulo. Já com criação própria para se desvencilhar do lastro dos medalhões. Sem beijar a mão, ficam lado a lado.