“Distrito 9” chegou com charme de filme independente de um diretor estreante da África do Sul apadrinhado por Peter Jackson. Deu mais do que certo. Sucesso comercial (o orçamento de 30 milhões se transformou em mais de 115 milhões de faturamento só nos EUA) e de crítica, “Distrito 9” era realmente uma ficção científica bem azeitada, com todos os elementos funcionando bem dentro do efeito esperado e uma historinha com ares de crítica social que, bem, agregava alguma coisa.
Com o sucesso inesperado, Neill Blomkamp teve tempo de arquitetar a próxima obra com cuidado. E o resultado é decepcionante: trabalhando novamente com Sharlto Copley e agregando Matt Damon, Jodie Foster e Wagner Moura, “Elysium” é outra distopia recicladíssima, extremamente familiar e com uma nova alegoria de apartheid social que, de um jeito ou de outro, é muito comum na história da ficção científica em geral.
Basta lembrar das histórias de H.G. Wells, provavelmente o maior cânone do gênero, ou ainda o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e o 1984 de George Orwell, para ficar nas referências mais icônicas. Todos eles, de certa maneira, tratam sobre uma casta superior (de políticos, de raças, etc) que vivem em seu próprio mundo com privilégios e regras bem definidas, enquanto o resto da população se estrepa em guerras, trabalhos maçantes, comem o que dá e são sistematicamente impedidos de ingressar no tal mundo superior.
Não por acaso, esta alegoria clássica casa muito bem com a história do capitalismo em si. Ontem, hoje e sempre. Assim, quando o personagem de Matt Damon é agredido na fila para o trabalho e obrigado a trabalhar em condições sub-humanas e fazer qualquer sacrifício para manter o emprego que, no fim, é sua tentativa de largar o mundo do crime, basta lembrar que a realidade é milhões de vezes pior que a ficção.
Depois de sofrer uma carga de radiação que o condena a morte em poucos dias, só resta para Max (Damon) tentar se curar no mundo superior (Elysium), levar com ele a filha da sua namorada de infância (Alice Braga) que sofre de leucemia e para isso precisar enfrentar o “mercenário psicopata” vivido por Sharlto Copley (Kruger) a mando de Delacourt (Foster), que quer tomar o poder em Elysium. Para isso, vai precisar se submeter aos métodos “pouco ortodoxos” de Spider (Wagner Moura), espécie de hacker-traficante-carniceiro do submundo, responsável por tentar enviar naves clandestinas da Terra para invadir Elysium aos poucos que pagam para se aventurar em tentativas que não costumam “dar muito certo”. Aí você pode imaginar o desdobramento desse resumo.
A verdade é que nenhum ator se destaca aqui, presos pela necessidade de trabalhar com o caricaturismo dos personagens e o roteiro pouco inventivo de Blomkamp. Tecnicamente, como era de se esperar, é um bom filme, com a única ressalva para a fotografia. Me incomodou profundamente o excesso de luz, como um farol de milha apontado diretamente para a sua cara durante todo o filme. Culpa de Trent Opaloch, o mesmo de Distrito 9. Não por acaso, mas como óbvia escolha de estilo, erraram a mão.
No fim, “Elysium” soa como a realização do sonho de um menino fanático por ficção científica que, agora, tem os milhões e a máquina de Hollywood nas mãos. O que é precisamente o caso de Blomkamp. Será preciso um pouco mais que isso na próxima.