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Aerocirco: azeite pop

Não é de hoje que o Aerocirco conquistou seu espaço entre as principais bandas independentes do país. Com três discos de estúdio e um ao vivo no currículo, a banda catarinense já tem largo repertório de pequenas pérolas pop. Fazendo o caminho que grande número de bandas fazem – seja do Norte, Nordeste, Minas, Brasília ou, no caso, do Sul – a trupe se mudou para São Paulo em março deste ano.

E se os discos anteriores eram gravados em fragmentos, no velho esquema “do jeito que dá”, “Invisivelmente” – título irônico, provocador e sintomático – chega azeitado, feito com dedicação intensa e bem trabalhado nos mínimos detalhes. Antes de aportar na capital paulista, o verão de Floripa foi o cenário e o tempo em que conceberam a nova investida, dentro do estúdio próprio, Panela Virtual.

Se “Última Estação” chega dando o tom do disco, “Ninguém Vai Desistir de Você” tem nítida cara e potencial para hit. O riff tem pegada, a melodia é memorável e o refrão fica. Indie-pop para as massas e para os “outsiders”. Para o melômano chato e o ouvinte casual. Sem jamais abrir mão da qualidade e daquele aspecto “redondinho” do pop que, afinal, tanto nos agrada.

Fábio Della, vocalista, guitarrista, fundador e principal compositor, tem uma das vozes mais marcantes desse “novo pop independente” brasileiro. O acento sulista dá verniz agradável a um timbre peculiar, que naturalmente exibe o equilíbrio entre a melodia e a acidez. Maurício Peixoto (guitarra), Henrique Monteiro (bateria) e Rafael Lange (baixo) completam um conjunto correto e talentoso. Se não virtuosos, engrossam o caldo das soluções inteligentes, riffs variados e refrães marcantes.

Das candidatas a “hit”, “Não Me Leve a Mal” é o exemplo máximo. Tem tudo que uma boa música pop precisa e um pouco além. E na sequencia “O Rei” injeta um pouco mais de peso, uma verve mais rock, com propriedade. Se passam longe da originalidade e do experimentalismo, o Aerocirco tem o mérito de ser a banda pop quase perfeita.

Trafegam em território extensamente conhecido, familiar. Mas o fazem com qualidade bem acima da média. E num tempo em que todo mundo alega ser “original”, “único”, “inclassificável”, “repleto de influências diversas”, etc, etc, chega a ser quase um alívio encontrar – também – uma banda que não tem vergonha de assumir seu som, sua pretensão honesta, sua simplicidade cativante. A vontade de tentar produzir o melhor pop possível. E tá ótimo assim.

Baladas, como a faixa título, “O Resto Tanto Faz” e “Amanhã” são belos clichês. Acertando na maioria das vezes, difícil apontar uma única música entre as 12 que destoe e não mereça uma atenção a mais. Destaque para  o bom uso do teclado, artifício que lentamente tem voltado a ser explorado pelas bandas. “Invisivelmente”, se não exatamente a coisa mais original que você irá ouvir em 2010, é um dos melhores e mais azeitados discos do ano. A evolução natural de quem vem fazendo bonito desde a estreia, em 2003.

Vá atrás, vale a pena.

Published in Destaques Reviews de Cds