Antes de chegar na pergunta do título, pensei “o Iron Maiden ainda é relevante?”. Mas esta é uma indagação obviamente ridícula. Já que, com mais de 30 anos de existência e chegando ao 15 album de estúdio (impressionante média de 1 disco a cada 2 anos), o Iron Maiden não precisa provar absolutamente nada nem ter sua “relevância” questionada por ninguém. Goste você de metal ou não, parece difícil discordar de que o Maiden foi uma das maiores e mais importantes bandas das últimas décadas. É história. Abordei algumas dessas questões na resenha da última turnê da banda pelo Brasil, aqui.
É óbvio, também, que quem não gosta da banda, seja lá por qualquer razão, não irá passar a gostar jamais. E quem é fã (nático) seguirá na mesma, sem ter do que reclamar. O Maiden, portanto, atingiu um ponto de inércia calculada: entrega exatamente aquilo que se espera dele, com oscilações de qualidade que variam de acordo com a inspiração, momento, etc. É assim desde que Bruce retornou.
Depois de uma década de 90 esquecível e desastrosa, o clamor pela volta de Dickinson atingiu o ápice, fazendo com que Brave New World fosse largamente celebrado. Tanto pela ânsia quanto pelo disco, que de fato é ótimo. Depois dele, tivemos o autêntico mais do mesmo. Passado o frescor de um novo álbum da formação clássica quase 1 década depois, e também por isso, a fórmula foi mantida: “Dance Of Death” e “A Matter Of Life And Death” não são nada que se possa marcar como “memorável”.
É o piloto automático no máximo. O esquema de cavalgadas, riffs, solos, passagens climáticas, toques “progressivos”, linhas vocais parecidas e toda uma construção tremendamente familiar. Ou seja, depois de tudo isso, o que o Iron Maiden ainda tem a oferecer? “The Final Frontier” revela que pouco, mas ainda o suficiente para mantê-los no topo – tanto que o disco abocanhou as primeiras posições em charts de dezenas de países. “Satellite 15…The Final Frontier” começa bem. É consideravelmente diversa das aberturas normais da banda e tem muitas mudanças de andamento, com riffs que flertam com o hard rock e até certa pegada “alternativa”.
“El Dorado” é ótima escolha para single, bem superior aos 2 últimos. Mais punch e melhores riffs. Tônica do “lado A” da bolacha. Nas 5 primeiras músicas é delicioso ver o Maiden, ainda que inserido na sonoridade que buscou nos anos 00, resgatar parte da força da fase áurea. “Mother Of Mercy”, “Coming Home” e “The Alchemist” – não por acaso as mais curtas do disco – são suficientes para fazer de “TFF” o melhor álbum após o retorno de Bruce ao lado de “BNW”.
Infelizmente, de “Isle Of Avalon” pra frente a coisa começa a desandar. A segunda metade simboliza todos os excessos que a banda vem apresentando, toda a tal veia “progressiva” que, na verdade, não passa de uma desculpa para músicas longas que servem para cada um participar e se fazer presente. Atende a todos os egos e mantém a fórmula intacta. Verdade que “Starblind”, “The Talisman”, “The Man Who Would Be King” e “When The Wild Wind Blows” tem, cada uma, seus momentos. Superiores ao que vinham fazendo. Mas estão ali, perdidos entre uma masturbação incômoda.
Gravado no Compass Point Studios, em Bahamas, lugar clássico por onde já passaram o próprio Maiden, além de Rolling Stones, U2, AC/DC, Talking Heads, Bob Marley, Eric Clapton, Dire Straits, James Brown e David Bowie, a produção de Kevin Shirley, que trabalha com a banda há trocentos anos, está longe de ser “inovadora”, mas consegue lapidar com decência o melhor do disco.
“The Final Frontier”, enfim, soa como um álbum entre o mediano e o bom, de uma banda atracada num “porto de segurança” e que não tem nenhum motivo para sair dali. O Iron Maiden, afinal, não tem qualquer motivo para arriscar. É religião. Tudo permanecerá o mesmo até o inevitável fim das atividades. Por enquanto, ainda se seguram bem tanto ao vivo quanto em estúdio. Ilusão esperar algo além.