É compreensível que John Frusciante, a despeito de todos os outros guitarristas que passaram pelo RHCP, tenha se tornado sinônimo de boa música com o conjunto. Afinal, três dos melhores discos do grupo tiveram sua participação: Blood Sugar Sex Magik, Californication e By The Way. Além disso, Frusciante ganhou ares cult tanto pela sua personalidade, história – aquela onda de ter morado “na rua” depois que saiu do grupo, voltando pro Californication – e principalmente por seus discos solo, adorado por quase todos os indies que eu conheço. É um cara talentoso acima da média mesmo, no fim das contas.
Normal que as atenções para o novo disco recaiam sobre Josh Klinghoffer, amigo de longa data e colaborador de Frusciante. Com a participação de Klinghoffer, inclusive, JF gravou vários discos solo, incluindo “Shadows Collide With People”, considerado o seu melhor, além de outros trabalhos. A escolha para o substituir, portanto, foi a mais segura possível. A banda buscou a referência mais próxima que tinha e encontrou em JK o nome certo.
Ouvir “I’m With You” não deixa dúvidas que o caminho foi bem pavimentado, sem qualquer ruptura ou grandes perdas. Klinghoffer respeita bastante o legado de Frusciante e buscou não afetar o trabalho da banda, até porque não teria espaço pra isso e também porque não é o que o RHCP procura. É aquele mais do mesmo sempre diferente.
Novamente sob a batuta de Rick Rubin, o disco começa em alta com “Monarchy Of Roses”, uma das melhores. “Factory Of Faith” tem toda cara de possível hit, enquanto “Brendan’s Death Song” é aquela típica balada do grupo, que vai tranquila quase baseada na melodia e na voz de Kiedis e lá pra parte final explode num punch comedido. Repare na atuação do baterista Chad Smith nesta música. Desde sempre, a pegada refinada de Chad casa de maneira soberba com o baixo marcante e funkeado de Flea.
Em “I’m With You” a cozinha ganha ainda mais destaque, como que pra diminuir a pressão sobre Josh. “Ethiopia” evidencia bem isso. É Flea quem dá as cartas aqui. É ele quem conduz a canção, dá a base e indica os caminhos a seguir. “Look Around” é um perfeito exemplo de como o passar do tempo agiu sobre aquela banda de discos como “Uplift Mofo Party Plan”. A essência é a mesma, só que mais melódica e naturalmente domada.
httpv://www.youtube.com/watch?v=RtBbinpK5XI
“The Adventures Of Rain Dance Maggie” – que ganhou o ótimo clip ensolarado acima, mais californiano impossível – tinha mesmo que ser o primeiro single. É a música pop grudenta e pueril que eles conseguem fazer tão bem. Pueril com personalidade, diga-se. “Did I Let You Know” ganha metais e backs femininos. “Goodbye Hooray” aumenta a velocidade e o peso, com belíssima atuação de toda a banda, sendo uma das melhores do disco.
Fechando a bolacha, “Police Station” é de fato a grande balada do trabalho. Completa e intensa, é daquelas que só o RHCP consegue fazer. “Even You, Brutus?” traz uma aproximação com hip-hop, que sempre esteve presente na carreira deles, só que agora soando mais como o hip-hop contemporâneo que aquele antigo calcado no funk e no soul. Em certa medida, diga-se, já que não é toda a tônica da música. Ótima, diferente e corajosa. “Dance, dance, dance” termina o álbum em alta.
O saldo final é, sim, um grande disco. A banda soube se safar muito bem sem a presença de um integrante tão fundamental. Josh, mesmo tímido e ainda discreto, entrega um trabalho sólido. A turnê sem dúvida dará cancha forte para o rapaz, permitindo que apareça mais no próximo disco.
Se você lembrar que o RHCP surgiu no início dos anos 80, dá pra afirmar categoricamente que pouquíssimas bandas conseguiram envelhecer tão bem, se manter relevante por tanto tempo e permanecer no topo da atenção da mídia, público, dos charts, etc, como eles. Atravessando mortes de integrantes, mudanças de formação e um sem número de transformações e modas não só na música em si como na sociedade e, óbvio, na vida de cada um. “I’m With You” é uma parte admirável dessa história.