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“Chaka Nights”: melhor disco pernambucano do ano?

A gente sempre espera muito de Pernambuco. Afinal, o estado é responsável por algumas das melhores bandas que o país produziu nos últimos 20 anos. Mesmo após a explosão do mangue-beat, na década de 90, PE continua gerando uma infindável série de artistas, do mainstream ao indie. Nem preciso listar aqui. Este ano, enquanto Mundo Livre S/A e Nação Zumbi apostam numa troca de figurinhas desnecessária, que não acrescenta nada para nenhum dos dois, o indie pernambucano capengava.

“Chaka Nighs”, de Ricardo Chacon, músico com alguma rodagem na cena local, chegou até mim de surpresa. Por vacilo, perdi o show de lançamento do disco em Recife, no final de setembro. Com calma, fui ouvir a bolacha. E gostei. Gostei bastante. “Chaka Nights” mistura a alegada influência de brega e cumbia com um rock esperto, mezzo psicodélico, mezzo garage – ouça a ótima “Mil Razões” e comprove. O psicodélico, em suas diversas manifestações, parece ser a “nova onda” em Recife. E como bom admirador do estilo que sou, tenho nada contra.

Chacon se juntou com outros músicos conhecidos da cena local para produzir este álbum. O núcleo da Nuda, banda que você deve conhecer bem das várias matérias já publicadas aqui na Movin’. Arthur Dossa (guitarra), Henrique Campos (baixo) e Raphael Pinteiro (colaborador em diversas composições), fizeram parte do processo de criação de “Chaka Nights”. Carlinhos Carvalho, Gabriel Izidoro e Rildinho Araújo completam o time.

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Sem bobear, Chacon sabe explorar a pegada space-noise de “You Stood The Test Of Time”, que tem cheiro de Hawkwind e até mesmo Blue Oyster Cult ou Eloy. Claro, com um tempero próprio. “Não tem chão, não tem céu, não tem pé, não tem eu, nem tem teto, deixa eu respirar”, canta Chacon na sintomática “Nonsense”, uma das melhores do álbum. A quase-instrumental “While In A Great Sunshine” abre as portas do “lado B” para a suave e mansa “Só Meu Eu Amigo”, com cara de balada para as rádios como as baladas para as rádios deveriam (ou poderiam) ser hoje em dia.

“Telefonar” abraça a malícia gostosa de uma dança juntinho numa birosca mal iluminada. O brega fala alto e fala bem. A cama de baixo, bateria, guitarra e teclado vem macia e convidativa. “Eu posso telefonar pra você, meu amor, à noite, estando só na serenidade, cheio de vontade”. E que vontade.

“A Praia e a Casa” é aquela cumbia safada que deixa você soltinho, soltinho. Um disco que dá prazer em ouvir, de músicos com considerável maturidade, boa pegada e uma mistura pra lá de azeitada. Não só de Pernambuco, mas “Chaka Nights” se coloca, fácil, entre os melhores discos nacionais do ano.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds