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Em “Gensho”, a colaboração entre Boris e Merzbow fica longe do esperado

Dois gigantes da música experimental japonesa e que seguem produzindo absurdamente depois de 3 décadas. Assim deve ser encarado o catálogo vasto e infindável do Boris, um colosso do noise/sludge/drone/etc e do Merzbow, dos maiores inovadores da longa tradição eletrônica do Japão, chegando ao chamado “harsh noise”.

Quem sabe, sabe: não é música para ouvidos mais sensíveis. Distorções intensas, profundas e “gordurosas”, de andamento lento em faixas que ultrapassam facilmente os 10 minutos caminhando lado a lado com texturas experimentais torcidas e retorcidas levadas ao limite do aceitável pelo ouvido humano. A parceria entre os dois times é coisa antiga: “Rock Dream”, de 2007, por exemplo, é, pra mim, um dos melhores e mais esporrentos discos ao vivo que se tem notícia. Se não conhece, vá atrás.

“Gensho” – palavra japonesa para fenômeno – é ambicioso, na medida em que recomendam que o lado A, em que o Boris oferece releituras de velhas músicas, deve ser ouvido com o B, em que Merzbow despeja 4 faixas beirando os 80 minutos do seu harsh mais típico e brutal.

Não é surpresa alguma para quem conhece o catálogo dos dois. Sozinho, o Boris tem quase 50 discos (entre álbuns de estúdio, EP’s, ao vivo e remixes) nas costas, praticamente o mesmo que o Masami Akita, o homem por trás do Merzbow, produziu desde a década de 80.

Com um time dessa envergadura e uma produção tão frenética, ninguém espera – novamente – uma revolução. Mas, na medida em que o Boris limitou-se a repaginar parte do seu cânone e o Merzbow entrega o que dele se espera – violência experimental em estado bruto – “Gensho” acaba se tornando um disco para os fãs e dificilmente converterá novos iniciados, a turma que, com alguma justiça, costuma chamar isso aqui de “música que parece que tá com defeito”.

Captura de tela de 2016-05-20 15:15:35

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds