A turnê de Roger Waters pelo Brasil em 2018, bem no meio das eleições presidenciais, foi marcada por uma enxurrada de manifestações políticas por todos os lados. Mais que isso: chegou-se ao absurdo máximo de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aceitar o pedido de Investigação Judicial Eleitoral movido pela campanha de Jair Bolsonaro (PSL), contra o Fernando Haddad (PT) e dois diretores da empresa T4F Entretenimento, produtora responsável pelos shows de Waters no Brasil.
No despacho, o ministro Jorge Mussi determinou a notificação das partes sobre a acusação de que “os shows de um dos fundadores da banda Pink Floyd no Brasil teriam configurado abuso de poder econômico contra o candidato do PSL”. A defesa de Bolsonaro alegou que os atos de Waters “teriam sido “premeditados” com “o explícito propósito de denegrir (sic) sua imagem e causar nos telespectadores/fãs uma forma de repulsa, pela evidente campanha negativa, o que não condiz com a realidade”.
Em dezembro, o TSE julgou improcedente por unanimidade a ação.
Antes mesmo de Bolsonaro entrar com a ação, depois de assistir ao show em Brasília, escrevi esse texto: “Para o duplipensar brasileiro, Roger Waters é uma ameaça”. O fato de Bolsonaro recorrer ao TSE só mostra o quão ameaçado o agora presidente se sentiu. Por um artista. Com o histórico de Waters. E o quanto o fascismo sempre se sente profundamente ameaçado pela arte, que trata como inimiga – Umberto Eco concorda.
O texto acaba de ser premiado como o vencedor da categoria “Opinião” do Prêmio de Excelência Jornalística da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), um dos mais prestigiosos do mundo. De acordo com os jurados, o prêmio se justifica porque “trata-se de um texto marcante sobre a polarização da sociedade brasileira em que o autor combina criativamente seus próprios argumentos com reflexões de pensadores e artistas”. O prêmio de “Opinião” é oferecido pelo jornal El Mercurio, do Chile. A SIP foi fundada em 1942 e é uma organização jornalística referência nas Américas.
É com enorme satisfação que recebo esse reconhecimento. Afinal, são 11 anos de Movin’ Up, cerca de 650 textos publicados somente aqui e 15 anos desde que publiquei o meu primeiro texto sobre música na internet, em 2004.
Diante das várias transformações pelas quais o site passou nesse período, inclusive de abordagem, mostra que acertei em apostar sobretudo em textos mais densos, de críticas mais aprofundadas e pontuais, que nunca subestimam a inteligência do leitor. Que é o que a Movin se tornou nos últimos 2 anos, em especial: um site de crítica cultural que foge do lugar comum.
Obrigado a quem acompanha. Sigamos.
Leia outros textos já publicados sobre Roger Waters e o Pink Floyd na Movin Up:
Especial Waters 70 anos: entrevista e análise sobre a carreira
The Wall, a potência e o clichê: sobre a turnê de The Wall no Brasil em 2012
David Gilmour: as coisas como elas são – sobre a turnê de Gilmour no Brasil em 2015
Breves obituários: Rick Wright e Syd Barrett
Bônus: txt sobre o show de Roger Waters no Rio de Janeiro em 2007, publicado no Whiplash!