Por Maurício Angelo
Parece-me razoável dizer, com alguma margem de certeza, que 2015 foi o melhor ano para a música desta segunda década do século XXI. Os motivos são muitos: de longe, foi o melhor ano para o hip-hop, com o ápice de Kendrick Lamar e dezenas de outros bons discos (Lupe Fiasco, Milo, Lil Ugly Mane, Vince Staples, Joey Bada$$, etc), o surgimento de Kamasi Washington, colocando o jazz no mapa novamente, um excelente momento para o metal (pouquíssimas vezes lembro de tantos discos relevantes em um ano só), alguns veteranos lançando seus melhores trabalhos em muito tempo e gente nova com talento aparecendo bem. Já é muito mais do que normalmente se tem.
No Brasil, também, 2015 foi infinitamente superior a 2014 e os anos recentes. Desta vez temos candidatos suficientes para encher uma lista sem precisar forçar a barra. Vamos aos escolhidos (na música e fora dela) com breves comentários e links das matérias relacionadas que foram publicadas aqui na Movin’ Up ao longo de 2015.
MELHORES DISCOS (GRINGOS)
Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly
O maior testamento do hip-hop no século XXI. Leia o texto.
Benjamin Clementine – At Least For Now
A melhor surpresa do ano. Txt aqui.
Kamasi Washington – The Epic
A estreia mais ousada em muito tempo. Leia a análise.
Chelsea Wolfe – Abyss
Dark, criativo, belíssimo e muito bem composto.
Deafheaven – New Bermuda
O black metal ainda pode ser relevante. Leia o txt.
Godspeed You! Black Emperor – Asunder, Sweet and Other Distress
Os canadenses nunca decepcionam.
Low – Ones And Sixes
Melhor disco do grupo que define o slowcore em muito tempo.
Julia Holter – Have You In My Wilderness
Dream pop bem acima da média.
Gruesome – Savage Land
Death metal old-school totalmente calcado no Death de Chuck Schuldiner. Estreia espetacular.
Everything Everything – Get To Heaven
Ainda que irregular, este disco é, disparado, o melhor art pop do ano.
Menções honrosas OU um segundo time de respeito:
Horrendous – Anareta
Magma – Šlaǧ Tanz
Jamie XX – In Colour
Sleater-Kinney – No Cities To Love
Beach House – Thank You Lucky Stars
Lupe Fiasco – Tetsuo & Youth
The Souljazz Orchestra – Resistance
Elder – Lore
Sacri Monti – Sacri Monti
Milo – So the Flies Don’t Come
MELHORES MÚSICAS
MELHORES DISCOS (BRASILEIROS)
Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
O mais relevante disco nacional do ano, sem dúvida.
Dingo Bells – Maravilhas da Vida Moderna
Fábio Góes – Zonzo
Fábio é dos melhores compositores da sua geração, fácil.
Bemônio – Desgosto
Cidadão Instigado – Fortaleza
Cadu Tenório & Juçara Marçal – Anganga
Rodrigo Ogi – Rá!
Black Alien – Babylon By Gus Vol. 2: No Princípio Era o Verbo
Chico César – Estado de Poesia
Duda Brack – É
Menção Honrosa: Dibigode – Garnizé
MELHORES SHOWS (NO BRASIL)
David Gilmour
Pearl Jam
Smashing Pumpkins
TOP 10 PRIMAVERA SOUND 2015
Este ano pude conferir o Primavera Sound, em Barcelona, que você pode ler o texto aqui. Um top 10 (ou 15) do que consegui assistir no festival:
Patti Smith (tocando “Horses” na íntegra, disco que fez 40 anos em 2015)
Swans
Underworld
Sleater-Kinney
Einsturzende Neubauten
Caribou
Spiritualized
Run The Jewels
Damien Rice
Replacements
Menção honrosa
Ride
James Blake
Earth
Chet Faker
Thurston Moore
MELHOR LIVRO
Só li velharia, mas posso destacar o colossal “O Homem Que Amava Os Cachorros” do cubano Leonardo Padura, recomendadíssimo. No Brasil, vá atrás de “Pssica” do Edyr Augusto Proença. Fiz uma entrevista com ele aqui.
TV/CINEMA/DOCS
Curioso, neste ano não consigo apontar nenhum filme como “o melhor”. Nada do que vi me chamou realmente a atenção, o que dá um indicativo de várias coisas. Na TV, gostei bem de Narcos, ainda que com problemas (escrevi sobre a série aqui) e True Detective decepcionou bastante (também escrevi aqui). A irregular quinta temporada de “Game Of Thrones”, mesmo com muitos episódios modorrentos, foi melhor que a quarta em suas revoltas, rebeliões e a chapa esquentando lá pro lado de King’s Landing. Tudo indica que a sexta será ainda melhor. “Mad Men”, uma das mais bem escritas séries de todos os tempos, finalmente chegou ao fim. Esse novelão de altíssima qualidade, pra mim, já deveria ter terminado antes. Escrevemos sobre o seu final aqui.
De filme gringo, talvez o melhor seja “Beasts Of No Nation”, de Cary Joji Fukunaga, o primeiro filme produzido pelo Netflix…curiosamente pelo diretor da primeira (e ótima) temporada de True Detective.
Destaco os documentários musicais: “What Happened, Miss Simone?”, “Sinatra: All Or Nothing at All” e “Cobain: Montage of Heck”.
De filme brasileiro, sem dúvida o queridinho será “Que Horas Ela Volta?” que é muito feliz em sua tentativa de retratar as tensões sociais históricas e as mudanças ocorridas no Brasil nos últimos 15 anos. Não só a ascensão da classe C como a postura que eu chamo de “tolerância carismática” da classe média. Porém, há muitos problemas no filme que não posso ignorar. Recomendo dois textos sobre ele: aqui e aqui.
MELHORES CERVEJAS
Este também foi, sem dúvida, o ano mais importante e movimentado para o mercado cervejeiro nacional desde 2009, pelo menos. A compra da Wals e da Colorado pela Bohemia (AB-INBEV) mexe com as peças no tabuleiro. Escrevi sobre isso para a HSM. Sem falar na compra da SAB Miller pela própria INBEV, criando uma gigante que controlará 1/3 do mercado cervejeiro mundial. Por aqui, saindo um pouco da febre das IPAS (mas eu continuo nela), tivemos mais sours, saisons e estilos mais potentes. A Wals, de BH, uma máquina de inovação, novamente se destaca, colocando muitas (e ótimas) novidades no mercado (Alambique County, Cuvée Carneiro, etc). A compra pela Bohemia, todos esperam, não deve afetar isso. Outras cervejarias de destaque foram a Invicta, de Ribeirão Preto, a Tupiniquim, de Porto Alegre, com suas invenções e parcerias e a Bodebrown, de Curitiba, ampliando seu portfolio e apostando em edições especiais envelhecidas. Algumas boas cervejas que tomei em 2015:
Tupiniquim Monjolo (Imperial Porter)
Invicta Transatlântica Brett (Sour)
Invicta Boss (Imperial IPA)
Backer Tommy Gun (Double IPA)
2 Cabeças – Hi5 (Black IPA)